A 34° Oficina de Música de
Curitiba foi uma enxurrada de experiências positivas e engrandecedoras. Ao
retornar pra casa, refletindo sobre tudo, achei interessante compartilhar tudo
isso de forma detalhada... Em parte por pensar ser uma forma de retribuição por
aquilo que pude vivenciar e outro tanto pra matar um pouco a saudade - ou a sodade, como logo irão entender no
discorrer da leitura deste texto. Resolvi separar os assuntos que surgiram e
contar com calma, para não perder nenhum detalhe e aproveitar cada assunto de
maneira mais aprofundada. A tendência, quando temos muita informação
disponível, é não aprofundar em nada específico e, com o passar do tempo, o que
poderia ser uma oportunidade de aprender sobre muitas coisas acaba tornando-se
apenas mais uma curiosidade não desvelada. Bem, vamos ao que interessa! O primeiro momento o qual me impressionou por
lá foi - após o dia inicial de oficinas – o momento em que conheci o Teatro Paiol.
No estilo arena, o local é muito aconchegante e intimista, oferecendo uma
acústica perfeita que quase dispensa microfonação. Mais do que espaço físico
- o qual sem duvidas contribuiu para a apreciação do espetáculo - o que
verdadeiramente me emocionou e fez refletir naquela noite de segunda feira -
dia 18.01.2016 - foi a qualidade sonora e artística apresentada pelo Trio
Sodade (ou Trio Saudade, no português brasileiro). Como explicado pelo grupo
durante a apresentação o nome foi assim escolhido porque os integrantes Paulo
Bouwman- Guitarra/voz, Floor Polder - flauta transversal/voz e Marcos Santos -
percussão/voz tem um ponto comum que os une em sentimento: a saudade. Palavra
tão bonita e única do idioma português que, como pudemos notar, tem sua
variante em outros lugares do mundo, neste caso em Cabo Verde. Sim, o que os
une é saudade de casa. Paulo Bouwman é de cabo Verde, Floor Polder da Holanda e
Marcos Santos de Portugal e viajam pelo mundo com sua música. A pergunta que
fica é: que tipo de som essas pessoas tocam? A resposta é bastante
inusitada... O repertório é constituído quase em sua totalidade por música
brasileira! Na verdade, eles mesclam a música brasileira e a cabo-verdiana, as
quais se misturam sem nenhum problema. Segundo seu vocalista, essas músicas têm
muitíssimo em comum. Pensando um pouco melhor fica bastante evidente a
proximidade, já que Cabo Verde teve também colonização portuguesa. Lá a música
europeia chegou e – como aqui - teve de se adaptar ao ritmo e ao suingue da
cultura africana (dentro de suas múltiplas tendências e origens – o que seria
tema para outro texto específico sobre o assunto). Talvez lá influência africana
tenha se manifestado com maior intensidade do que aqui, pois estava mais
próxima de seu local de origem. Mas isso são somente achismos meus, afinal
muitas vezes quando nos afastamos de nossa terra natal o que sentimos em
relação ao que é peculiar de lá ganha mais intensidade somado à saudade que carregamos...
O que para mim explodiu como uma descoberta no momento foi: imaginemos quantas
formas peculiares essa fusão assumiu nas diferentes regiões colonizadas
pelos portugueses, onde a música europeia encontrou a africana. Digo isso pois
tenho procurado conhecer mais sobre a nossa música original, o choro, e cada
dia me surpreendo com a quantidade de grandiosos e desconhecidos compositores que fazem
parte da nossa história! Trabalhos recentes realizados por pessoas como Almir
Chediak, Mario Sévi, Mauricio Carrilho – dentre outros, tem nos mostrado que o
Brasil precisa ser redescoberto... Ainda não consegui dispor de tempo para
sanar uma curiosidade: se aqui demoramos tanto, será que nestes outros países
que tiveram uma história parecida em relação à colonização, diga-se Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, etc.; -
existe um trabalho deste teor, que reúna os compositores locais e resgate seus
trabalhos? Buscamos estrelas, planetas e galáxias, mas ainda temos muito o que
descobrir por aqui! Quem quiser ajudar na pesquisa e complementar este post com
comentários por favor fique à vontade. Grato pela a atenção! Espero logo postar
a sequencia das experiências vivenciadas no festival e, mais adiante, revistar
tantos temas interessantes com mais profundidade.... Até logo!
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Trio Sodade Concert, Teatro Paiol em Curitiba/PR. Fonte: Facebook/triosodade. |
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